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R$40,00

Descrição

â.ma.go (Daniela Cassinelli)

Editora: Escaleras
Acabamento: capa cartonada com orelha
Cor do miolo: preto
Formato: 14 x 21 cm
Páginas: 72
Edição: 
Ano: 2022
Idioma: Português
Classificação: não disponível
Categorias: literatura, romance

â.ma.go conta a história de duas mulheres que vivem juntas no meio do nada, alimentando-se de memória, silêncio e afeto, até que um dia decidem sair para conhecer o mar.

Mais sobre o livro:

A memória é um olhar que agora pousa sobre o que evaporou na nossa frente e que ficou estacionado lá, atrás de nós. Esse resgate do que experimentamos é como se já ter provado algo fosse o suficiente pra não sentir fome nunca mais, ou até para sentir fome pra sempre. O quanto de chão que um chinelo velho não guarda? O quanto desse chão guardado ele já não rejeitou, visto que sua sola se desfaz à medida que o chinelo caminha? Daniela Cassinelli nos confirma que a resposta disso jamais decolará: as respostas correm rasteiras como um grupo de formigas até caírem no ralo mais próximo. E sim, as respostas passam do chão, enquanto nós nunca. Se nos falta o alcance então, para que nos servem as mãos?

As de Dani, para escrever. Para pintar. Para pinçar no silêncio as falas que ele retém.

A voz de uma vó é deus. Querer fugir mas desistir no meio, um desistir que se desdobra em um não desistir de si por qualquer outra coisa. As cicatrizes que vão do peito ao umbigo. As libélulas que ficam batendo as asas no mesmo lugar (às vezes é preciso um esforço até pra ficarmos paradas e quietas). As febres e as impossibilidades que nos colocam de frente para tudo o que somos e deixamos de ser.

"Como se enxergasse no escuro", Cassinelli nos revela uma matéria prima da qual as lembranças são feitas. Coloca sobre a mesa os restos que sobraram dos encontros que, por mais que cheguem ao fim, não nos deixam nunca. Ir até o outro envolve essa promessa: de se abrir para uma boca que raspa na nossa e acende ali um fósforo que nos faz começarmos de novo em nós.

Nesse livro, Daniela abre um mapa e nos convida a caminharmos através das coisas, sem pressa, mas com urgência. Na escrita e na leitura de "âmago" a vida se reinicia e os espaços se alargam pra que a gente sinta tudo o que for possível de caber dentro: esses arrebatamentos que nos atingem no centro.

Dora de Assis

â.ma.go, livro de estreia de Daniela Cassinelli, é sobretudo uma história de amor à vida, que emerge das entranhas da terra. Não à toa, a primeira e a última frase do livro nos lembram que “as histórias vêm do barro”, nos sugerindo um tempo circular – e, portanto, carregado de ancestralidade e memórias –, em que a linearidade do real é desconstruída em favor de uma tessitura delicada e precisa que evoca o poder da terra de moldar nossa existência.

A presença de duas mulheres em um solo ao mesmo tempo realista e onírico, de privações sociais e materiais, mas repleto de sonhos e sensações, nos convida a colar o corpo à pulsação dessa fertilidade sinestésica, saboreando o viço de uma narrativa construída com cuidado na busca da palavra justa.

Isto porque, ao silêncio que preenche as páginas, esculpir a forma dessa pele, fugindo à imposição de um único gênero – com desenhos criados pela própria autora, com poesia, com musicalidade e oralidade –, é também reconhecer a instável relação entre as palavras e as coisas e aceitar, com dor e prazer, que diante do que nos cerca e molda o que nos resta é continuarmos a nos surpreender com o mistério do mundo.

Esse espanto primordial significa olhar com os sentidos, nomear os encontros que se recusam a um significado dado, fazer com que os objetos do mundo acordem para nós e nos levem a uma outra compreensão, seja da linguagem, seja da nossa relação com o sensível. Graças ao uso de mecanismos incrustrados na concepção do livro, a narrativa de â.ma.go questiona, enfim, uma realidade incapaz de dar conta da complexidade humana, mas, ao mesmo tempo, atinge o cerne de nossa própria história. Isso é li.te.ra.tu.ra.

Claudia Chigres

Sobre a autora:

Daniela Cassinelli nasceu em 1997 numa sexta-feira de carnaval no Rio de Janeiro. É graduada em Formação de Escritor pela PUC-Rio e cursa Artes Visuais pela UERJ. Publica poesias íntimas em seu blog pessoal e em revistas online, e participa da antologia de poesia do Selo Off Flip em 2021, da qual foi vencedora. â.ma.go é seu livro de estreia.