Estamos passando por mudanças, qualquer dúvida entrar em contato por e-mail ou redes sociais.

R$92,90

12x de R$8,98
Ver meios de pagamento
Descrição

A família Medeiros (Júlia Lopes de Almeida)

Editora: Carambaia
Acabamento: capa dura com serigrafia
Cor do miolo: preto
Formato: 13,5 x 20,5 cm
Páginas: 256
Edição:
Ano: 2021
Idioma: Português
Classificação: não disponível
Categorias: literatura, romance

Abolicionista, feminista e republicana já nas duas últimas décadas do século XIX, Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) foi uma das escritoras mais ativas e mais lidas de seu tempo, mas, como muitas outras, passou por um processo de apagamento histórico que ainda não foi de todo reparado. O romance A família Medeiros, que em 2021 completa 130 anos, foi a obra que a tornou conhecida em seu tempo. Publicado primeiramente como folhetim na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro em 1891, tornou-se livro rapidamente graças a uma trama bem arquitetada que passa por uma história de amor e por mais de um mistério a ser desvendado. No entanto é também, do início ao fim, a narrativa do conflito entre jovens abolicionistas e escravistas, estes dispostos às piores crueldades para manter as coisas como estão. 

O enredo começa com a chegada de Otávio Medeiros, depois de uma temporada de estudos de engenharia na Alemanha, à fazenda de seu pai, o comendador Medeiros, em Campinas (SP). Otávio vem para o Brasil com ideias avançadas contra a escravidão e a favor da modernização da agricultura, em oposição às convicções de seu pai. Na casa da fazenda Santa Genoveva mora agora uma prima, Eva, uma jovem altiva que não só nutre ideias abolicionistas como intervém contra os maus tratos aos escravos e contribui financeiramente para fundos de alforria. Em torno de Eva há um segredo que faz tremer o comendador. 

Na figura do chefe da família Medeiros, Júlia Lopes de Almeida constrói uma crítica severa ao patriarcado. Além de perverso com os escravos, o comendador é uma pessoa retrógrada e intransigente, convicto de que deve e pode arranjar os casamentos dos filhos – Otávio tem duas irmãs –, é casado com uma mulher submissa e sem voz nas questões familiares, inimigo do próprio irmão e intolerante com os modos independentes da sobrinha. 

Em A família Medeiros, que não por acaso a escritora terminou de escrever em 1888, ano da Lei Áurea, a convicção abolicionista vem lastreada por um painel do período de transição que transcorria. As fugas e rebeliões de escravos cada vez mais frequentes são acompanhadas do protagonismo das vozes antiescravagistas, surgem os primeiros imigrantes europeus e há prenúncios da automatização do campo: uma nova máquina agrícola é recebida com pompa e circunstância pelos personagens. 

Um aspecto curioso da construção literária do romance, tributária da fonte do realismo francês, é a descrição das fazendas paulistas, seu funcionamento, os hábitos de seus moradores e o linguajar tanto dos escravos quanto dos senhores. Conforme a trama vai se adensando, os personagens centrais viajam pelas estradas, fazendas e vilas – além de, brevemente, pelas áreas centrais de Campinas – e a autora descreve os pequenos comércios e a fala caipira. Carioca, Júlia houve por bem criar notas de rodapé para explicar ao leitor os “paulistismos” que recolheu. Para um público previsivelmente burguês, a autora descreve ainda a romaria de pagadores de promessas ao Bom Jesus de Pirapora, uma fuga de escravos e uma comunidade de leprosos.

Leia as primeiras páginas

Sobre a autora:

Júlia Valentim da Silveira Lopes de Almeida nasceu na cidade do Rio de Janeiro em família de elite, e fez seus estudos em casa. Seu pai, médico nascido em Portugal, viria a ser nomeado visconde de São Valentim. Passou boa parte da infância em Campinas, onde, aos 19 anos, começou a colaborar com a Gazeta de Campinas e três anos depois no carioca O País, uma colaboração que se estendeu por três décadas, período em que defendeu o divórcio e o direito ao voto e à educação pública para todas as mulheres. Em 1886, mudou-se para Lisboa, onde publicou, no ano seguinte, o volume Contos infantis, coescrito pela irmã, Adelina Lopes Vieira. Casou-se pouco depois com Filinto de Almeida, que era diretor da revista A semana ilustrada, que circulava no Brasil e passou a ter Júlia como colunista. 

Retornando ao Brasil, publicou seu primeiro romance, Memórias de Marta. O livro seguinte foi A família Medeiros, que esgotou sua primeira edição em três meses. Ao todo a obra de Júlia é composta por dez romances, três coletâneas de contos e novelas, três compilações de crônicas, além de peças de teatro, poemas, relatos de viagem e conferências ministradas tanto no Brasil quanto no exterior. Colaborou com numerosos jornais e revistas, entre elas A semanana qual Machado de Assis também escreviaEntre seus romances mais importantes estão A falência – que é considerado uma continuação de A família Medeiros – A intrusaTeve três filhos, todos escritores pouco conhecidos, e morreu de complicações de uma febre amarela provavelmente contraída na África. 

Júlia participou do grupo de intelectuais que planejou a criação da Academia Brasileira de Letras (ABL) e constava da primeira lista de imortais que constituíam a organização. Na primeira reunião, contudo, seu nome foi excluído porque os demais participantes concluíram que, como a Academia Francesa, a brasileira não deveria aceitar mulheres. Em seu lugar, emblematicamente, entrou o marido, Filinto de Almeida. O veto à participação feminina só terminou em 1977. 

Ao lado de Bertha Lutz, Júlia teve participação ativa na fundação da Legião da Mulher Brasileira, em 1919, da qual foi presidente honorária, e, no ano seguinte, colaborou para a criação da Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher, embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, fundada no Rio de Janeiro em 1922. 

Saiu na imprensa:

A família Medeiros mostra ideais abolicionistas de Júlia Lopes de Almeida”
Giovana Proença, O Estado de S. Paulo, 05/03/2022

“A família Medeiros de Júlia Lopes de Almeida retrata a barbárie”
Angela Alonso, O Folha de S. Paulo