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Descrição

Virgindade Inútil: novela de uma revoltada (Ercilia Nogueira Cobra)

Editora: Carambaia
Acabamento: Capa dura laminada com gofragem
Cor do miolo: preto
Formato: 12,5 x 19,5 cm
Páginas: 176
Edição: 1ª
Ano: 2022
Idioma: Português
Classificação: não disponível
Categorias: literaturaromance

Pouco lembrada atualmente, Ercilia Nogueira Cobra foi uma das mais corajosas e avançadas vozes da literatura brasileira nas primeiras décadas do século XX. Sem meias palavras já a partir do título, sua única obra de ficção, Virgindade inútil, é, como define a autora, a “novela de uma revoltada”. E é exatamente isso que o leitor encontrará em suas páginas vigorosas. 

Mistura originalíssima de sátira, drama e argumentação naturalista, o livro é um libelo feminista contra a dominação patriarcal em todos os aspectos da vida, e principalmente sobre o corpo da mulher. “O amor físico é tão necessário à mulher como o comer e o beber”, afirma a autora, partidária do amor livre, logo no segundo parágrafo da “observação” que antecede a novela. Nas páginas que se seguem, encontra-se uma defensora da legalização do aborto e simpatizante do lesbianismo.  

Ercilia, nascida em 1891, publicou Virgindade inútil em 1927 – três anos depois do ensaio Virgindade anti-higiênica –, provocando escândalo e proibição, primeiro pela própria família da autora, depois pela Igreja e pelo Estado Novo (1937-1945). Detalhes sobre esses episódios e outros estão em uma alentada biografia escrita pela pesquisadora Maria Lúcia de Barros Mott incluída na edição. O volume conta ainda com um posfácio da historiadora Gabriela Simonetti Trevisan. 

O enredo de Virgindade inútil se passa num país chamado Bocolândia, cujos habitantes são os bocós. Nele, “o analfabetismo é mantido de propósito a fim de que o povo se conserve em permanente estado de estupidez”. A protagonista é Cláudia, moça de “uma dessas famílias do interior que aparentam fortuna e onde o valor da mulher é igual a zero”. Recebe educação apenas para se tornar “o anjo do lar”, aguardando ser “colhida” por um marido. No entanto, com o fim da fortuna familiar e a consequência ausência de dote, ela se vê fadada à vida de solteirona.  

Depois de ver uma amiga seduzida, abandonada e levada à prostituição, em seguida expulsa da sociedade, Cláudia se cansa do papel relegado às mulheres – “fazer papel de idiota a vida inteira” – e decide partir para Flumen, a capital da Bocolândia. Começa então uma trajetória em que se alternam humilhações e o desfrute dos prazeres da vida. 

O lançamento do livro de Ercilia vem se unir a outros romances de autoras brasileiras feministas do início do século xx que tiveram sua obra esquecida e estão sendo recuperadas em novas edições, acompanhadas de textos de especialistas, pela CARAMBAIA. Além de Virgindade inútil, a editora conta em seu catálogo com Enervadas, de Chrysanthème, pseudônimo da carioca Cecília Moncorvo Bandeira de Melo Vasconcelos, e A família Medeiros, de Júlia Lopes de Almeida.

Ler as primeiras páginas

Sobre a autora:

Ercilia Nogueira Cobra (1891-?) era natural de Mococa, no interior de São Paulo, e foi educada em colégio de freiras. Sua biografia tem lacunas e não se sabe onde nem quando morreu. Deixou a casa da família aos 17 anos (1909) na companhia de uma de suas irmãs. Por volta de 1917, teria colaborado numa revista de tendência anarco-socialista chamada Gesta ou Giesta.  

Frequentava o teatro no Rio de Janeiro, esteve na França (1920) e em Buenos Aires. Conheceu prostitutas, ouviu suas queixas e confidências, bases para seus livros. Apaixonada por poesia, leitora de jornais e revistas da época, Ercilia conhecia autores como Anatole France, Friedrich Nietzsche, Gustave Flaubert, Émile Zola, Monteiro Lobato e Júlia Lopes de Almeida. 

Em 1924, aos 33 anos, Ercilia publicou Virgindade anti-higênica, por iniciativa de Lobato. O livro foi recolhido pela polícia. Suas duas obras foram reunidas num só volume em 1932, com o título Virgindade inútil e anti-higênica, numa edição semiclandestina em que não consta crédito de editora. O livro teria sido publicado na Argentina ou na Espanha, de onde um médico teria pedido Ercilia em casamento, por carta, pela coragem de suas ideias. 

Ercilia teria sido presa durante o Estado Novo. Nos anos 1940, passou a morar em Caxias do Sul, onde, sob o pseudônimo de Suzana (“Suzy”) Germano, era dona do cabaré Pensão Royal, provavelmente um prostíbulo. Em seguida, Suzy teria se mudado para o Rio de Janeiro, onde se empregou como pianista da Jovina, dona de um conhecido dancing.