Editora: Escaleras
Acabamento: capa cartonada com orelha
Cor do miolo: preto
Formato: 13 x 19 cm
Páginas: 98
Edição: 1ª
Ano: 2021
Idioma: Português
Classificação: não disponível
Categorias: literatura, romance
Rafael Gurgel nasceu em Salvador (BA), no ano de 1995, quando o Sol cruzava o décimo-segundo grau da constelação de Escorpião. É Bacharel em Artes e mestrando em Literatura e Cultura pela UFBA. "Dark Room" é seu primeiro livro.
Orelha:
Dark Room, o primeiro romance de Rafael Gurgel, é parte, pois, de um conjunto de obras que constituem a literatura brasileira contemporânea que caracteriza-se pelo transbordamento das fronteiras entre gêneros, discursos, dentre outros campos de força. Duas vozes, dois narradores. Um estudante de Letras de 25 anos: autor (Rafael?). Um professor de Letras de 43 anos: personagem (André). No entanto, o autor também é personagem e o personagem também é autor. Ambos contam de si mesmos e do outro. Um livro dentro do livro: jogo de espelhos. Se o professor é personagem do estudante, o estudante também é personagem do professor e, sugere-se ao leitor, “Se você quiser trocar as coisas de lugar, fique à vontade”. Somos, portanto, livres na nossa leitura que, se realizada rapidamente, pode parecer simples (não encontrei outra palavra). (...) Histórias de #transas de dois homens brancos de diferentes gerações, soteropolitanos, de classe média, gays. Sexo, muito sexo, e alguma droga, cultura pop. Contudo, nesta simplicidade, há crítica e teoria literárias: “É meu diário, minhas entradas, eu eu eu, a patética comédia do escritor semimascarado (como diz Laddaga)”; há, sem nenhum tom apologético, discussões sobre identidades sexuais e sobre a extrema violência homofóbica que, muitas vezes, começa em casa: “então meu genitor chegou. [...]. me surrou. com a fivela do cinto. socou meu rosto, me empurrou na parede. bateu minha cabeça repetidamente, dizendo que sempre soube que eu ia dar pra isso, um mariquinha”. Há discussões existenciais: “E eu sou tudo que você não queria [mamãe]. Mas já sofri muito ajoelhando papai do céu tira isso de mim.” Há metalinguagem: “Parece que escrevi um livro juvenil. Mas não falo isso de um jeito pejorativo.” Há poesia: “Choro abraçado às minhas pernas. Corujas, fadas, gnomos e pirilampos saem às ruas”. Há muitas outras potencias. Tudo isso apresentado de modo frenético, fragmentário, como a vida contemporânea. Mas vá devagar, leitor, ou leia de novo, pois cabe a nós preencher os silêncios, expandir os rastros e adentrar neste quarto escuro, que é belo e excitante.
Mônica Menezes (Professora Adjunta de Literatura Brasileira da Universidade Federal da Bahia)
Contracapa:
Quando eu disse que queria ser escritor, você deve ter imaginado que eu escreveria histórias bonitas. #desculpamamãe.
Quero inclusive fazer as pazes com esta palavra, mamãe. Eu sempre te chamei de mamãe, até que me ouviram chamar assim e disseram que era coisa de viado. Foi por isso que deixei de chamar. Depois, quando já sabia que era, de fato, viado, continuei não chamando. Porque achei que alguma coisa tinha morrido entre nós dois. Em um corte lento e profundo. Mas estou descobrindo uma aproximação. Do jeito que consigo. Porque te amo. Tentando não machucar o de dentro de mim. Às vezes escuto as missas na tv. O padre puxando oração contra homossexualismo, indecência, fornicação, imoralidade. Não tenho como voltar a esse deus.
Se bem que não quero perdão, nem acredito em pecado. Mas sei lá, às vezes vem uma culpazinha. É inevitável projetar coisas no filho. E eu sou tudo que você não queria. Mas já sofri muito ajoelhando papai do céu tira isso de mim. Olha, eu juro que não quero te desafiar, eu juro. Eu podia escrever um livro que não te envergonhasse, mas estas são as minhas histórias possíveis agora. Eu não saberia dizer outra coisa. Ester foram os encontros que tive. E que guardei no cu. Literatura também é corpo, mamãe.