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Editora: Escaleras
Acabamento: capa cartonada com orelha
Cor do miolo: preto
Formato: 14 x 21 cm
Páginas: 108
Edição: 1ª
Ano: 2019
Idioma: Português
Classificação: não disponível
Categorias: literatura, conto
Jonatas Ferreira (1961) nasceu na Bomba Grande, bairro do Recife, em meio a uma família numerosa, de mulheres fortes e belas, cercado por papagaios, porcos, cachorros, gatos, vacas e outros bichos. Tem uma unha encravada de estimação, divide ap com um gato chamado Stress e chateia recorrentemente uma filha chamada Marina. É professor no Departamento de Ciências Sociais da UFPE onde pesquisa literatura brasileira.
Orelhas:
Cachorro escava as dobras que existem entre o mais íntimo e o social. Oblíqua e irônica, sua percepção, seu faro, é sensível ao se voltar para as experiências de pessoas invisíveis, para a errância de vidas acidentais, absurdas. É essa a matéria para o trabalho do escritor em sua lida com os rigores da morte e da memória.
Essa lida conduz à bruta dos subúrbios recifenses, que conferem unidade espacial e temática às crônicas e contos deste livro. Mirar a lama e a poeira de uma miséria densa faz um dos narradores à certa altura cogitar retirar a própria visão – gesto trágico que encerra uma percepção que se sabe falha, mas que não falha em se afetar pela ira ancestral que ronda essa topografia social e sentimental.
O ritmo e a dicção na narrativa revelam uma voz que comunica o limiar fluido entre a animalidade e a precariedade a que estão sujeitas as personagens. A continuidade entre o relato do animal e a condição de pessoas em estado de desamparo brutal tem na raiva o seu pathos. Uma linguagem de ira e melancolia, compartilhada por humanos e cães, traduz a experiência dos deserdados dos subúrbios recifenses, do Brasil - voz trágica que ecoa no esforço de assegurar, desde Antígona, alguma dignidade aos mortos insepultos.
Tentar atingir o lugar originário, mesmo quando “não há para onde voltar”, e dizer “eu moro nessa casa”. Mas Jonatas Ferreira dificulta a tarefa: aqui não se entra ou sai de casa: como Maria Doida, o narrador se posta no portão, na fronteira entre a casa e a rua, que não propicia segurança, de onde se bordeja a desrazão do mundo e se chafurda na fedentina da cidade. Ante a impossibilidade de avançar portão adentro e a impropriedade de se evadir portão afora, resta saber que “[e]star em casa é a coisa mais difícil que há”.
Aécio Amaral (João Pessoa, abril de 2019)