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Descrição

A Rua (Ann Petry)

Editora: Carambaia
Acabamento: capa dura com meia-casaca de tecido e serigrafia
Cor do miolo: preto
Formato: 15 x 23,5 cm
Páginas: 352
Edição:
Ano: 2021
Idioma: Português
Classificação: não disponível
Categorias: literatura, romance

Publicado em 1946, A rua, de Ann Petry (1908-1997), tornou-se rapidamente o primeiro romance de uma autora negra a superar a marca de 1 milhão de exemplares vendidos nos Estados Unidos – e bateu o recorde com folga: vendeu 1,5 milhão de cópias. No cânone da literatura afro-americana, contudo, a autora nem sempre foi devidamente lembrada, apesar de ter alcançado um equilíbrio raro: uniu observação social implacável a características da melhor tradição do thriller, sendo comparada a clássicos do romance policial como Raymond Chandler e Patricia Highsmith. 

Mais de sete décadas depois de sua primeira edição no Brasil, o romance de Ann Petry recebeu nova tradução, de Cecília Floresta, e vem acompanhado do posfácio da escritora americana Tayari Jones. A maior parte do enredo se desenvolve, efetivamente, em uma rua, a 116th Street, que tem papel-chave na vida da protagonista, Lutie Johnson, que tenta sobreviver com um filho de 8 anos no tumultuado bairro nova-iorquino do Harlem. Nas palavras de Tayari Jones, “a 116th Street é a resoluta antagonista e representa a intersecção entre racismo, sexismo, pobreza e fragilidade humana”. 

São esses os elementos que conferem ao romance um ponto de vista incomum mesmo entre os clássicos da produção literária afro-americana, em geral marcadamente masculinos. Lutie Johnson é uma mulher que sai de seu meio familiar na região da Nova Inglaterra e deixa para trás o companheiro que não consegue ajudá-la a criar o filho. Ela tampouco pode contar com o pai beberrão e sua nova esposa. 

Resta-lhe, de início, o trabalho de empregada doméstica na mansão de uma família rica que a trata com condescendência num ambiente abertamente racista. Lutie, no entanto, compartilha com seus patrões o credo no “sonho americano”, traduzido no elogio ao empreendedorismo formulado por Benjamin Franklin. Essa convicção a leva a abandonar o trabalho doméstico para estudar datilografia e conseguir empregos melhores. “Em outras palavras, Lutie é uma americana”, observa Tayari Jones. “Contudo, ela é uma americana negra, e esses termos nem sempre combinam.” 

No prédio decadente e sujo onde Lutie encontra um apartamento ao alcance de sua pouca renda, Lutie convive com um zelador de presença ameaçadora e a dona de um bordel que a convida insistentemente a trabalhar para ela. O único personagem branco na 116th Street é o dono do prédio e também de um bar onde Lutie começa a se apresentar como cantora, estimulada pelo pianista e líder da banda da casa – um homem negro que sabe se virar na selva urbana. 

Enquanto ganha a vida, Lutie tem de deixar seu filho sozinho nos horários em que ele não está na escola. A atmosfera construída por Petry traduz a iminência de perigos por toda parte de um cenário marcado por miséria e atitudes de salve-se-quem-puder. O leitor é envolvido numa multiplicidade de pontos de vista – embora a autora naturalmente dê ênfase à vida interior da protagonista, com frequência leva os leitores aos pensamentos e atitudes de quase todos os personagens, mesmo os mais sinistros.

Leia as primeiras páginas

Sobre a autora:

Ann Lane (depois Petry) nasceu numa pequena cidade do estado de Connecticut onde havia apenas quatro famílias negras. A origem de classe média não impediu que Ann e suas irmãs passassem por vários episódios de discriminação racial, mas permitiu que ela frequentasse a universidade, formando-se aos 25 anos em ciências farmacêuticas. Trabalhou sete anos na farmácia da família até que, em 1938, já casada com George Petry, mudou-se para Nova York com a intenção de tornar-se escritora, iniciando-se na carreira jornalística. 

Em 1946, enquanto terminava seus estudos de escrita criativa na Columbia University, publicou A rua, um sucesso estrondoso que a tornou uma celebridade, principalmente nos círculos de cultura negra, com repercussões no Brasil, onde o romance foi publicado em 1947 pela Companhia Editora Nacional. A habilidade em retratar sua época e lugar fez com que A rua merecesse da esposa de Martin Luther King, Coretta Scott King, o seguinte elogio: “É um trabalho de crítica social poderoso e implacável. Poucas obras de ficção iluminaram tão claramente o impacto devastador da injustiça racial.” 

No entanto, a fama incomodou profundamente a escritora, que voltou para sua região natal em busca de paz e privacidade, tendo vivido discretamente até sua morte aos 88 anos, deixando marido e filha. 

Sobre A rua, Petry afirmou que seu objetivo foi “mostrar como o meio social pode, simples e facilmente, mudar o curso da vida de uma pessoa”. A autora – que frequentava grupos de esquerda em Nova York – defendia com convicção a arte engajada. “A mim parece que toda grande arte é propaganda, seja a Capela Sistina ou a Mona Lisa, Madame Bovary ou Guerra e paz”, escreveu num ensaio. “Quando o romancista mostra como a sociedade afeta seus personagens, como foram formados e delineados pelo vasto e precário mundo em que vivem, está escrevendo uma obra de crítica social, chame-a assim ou não.” 

Petry publicou contos, ensaios e vários livros para o público infanto-juvenil, além de dois outros romances: Country Place (1947), ambientado entre a elite branca de uma cidade de Connecticut, e The Narrows (1953), uma história de amor trágica entre um homem negro e uma mulher branca. Suas obras vêm conquistando novos leitores nos Estados Unidos, após o lançamento, nos últimos anos, de seus principais romances na prestigiosa coleção Library of America.

Saiu na imprensa:

"Petry, ao mergulhar nas tragédias e dores dessas personagens, sobretudo Lutie, traz à superfície a sede por liberdade, a insistência no direito de viver e a recusa radical de mulheres negras em relação ao que o mundo as oferece."
Fernanda Silva e Sousa, Folha de S.Paulo, 04/02/2022